selvagem

sonhei que nascia uma montanha na lua
e lá de cima
do de cima
eu olhava pra você atravessando um lago
escuro e profundo
nessa montanha nada morria
nem nascia
um lugar do não tempo
onde não havia gravidade
nas palavras
e as coisas aconteciam
como a natureza selvagem

Amor

Ah, meu bem
quando se ama
não há palavras...

Um pedaço doce

Voando baixo
como um adolescente
atravesso uma nuvem de cores
quero ser um pedaço doce do seu coração
Voando baixo
me molho no rio
atravesso a floresta verde
sem nome
Voando baixo
explodo em cores
plantando flores artificiais nas suas mãos
Sou cheiro
sabor e cores

Amor

Amor amor
Rasgando sua pele
Amor amor
Suas garras
Amor amor
O monstro debaixo da cama
Amor te dilacerando
Amor o pesadelo da madrugada
Amor amor
Sua língua partida
Amor e vértebras
Amor a insegurança no escuro
Amor amor essa criança molestada
Amor tão frágil tão cruel
Amor a falta de oxigênio no mergulho
Amor
Amor
Amor

Sintonia

As rosas vermelhas no vaso adormecem
Botões brotam em lágrimas de sangue
A noite é quente
O ar é pesado
Me perco nas estações do ano
Um zunido de a.m
Estou fora de sintonia
Distante de você

Gemido

Quero um beijo quente
Carne molhada
Quero o seu sexo rígido contra o meu sexo
Quero sua pele e pelos
Sua garganta e gengiva
Quero sentir seus dentes no meu couro
Quero você contra o meu corpo
Quero o sufoco
O gozo e o gemido
Quero respirar e não respirar
Forte e leve
Suspirar

O amor aquece

Deixe os amantes dormirem
Aquecidos pelo amor
pelos corpos
Deixe a felicidade chegar até você
e lhe de um beijo
Amantes dormem aquecidos
são cobertos de calor
do sol que acorda
Deixe os amantes
deixe o amor contaminar você
Se aqueça
se cubra de amor

Perdi

Deixe me gritar
eu vou te contar
tenho muitos sonhos
e eles não incluem você
eu posso dizer que te amo
mas eles não incluem você
e não me importa o que digam
não importa
os sonhos são meus
e vou te dizer
eles não incluem você
não não não
eu vou fazer as minhas malas
e correr correr sem você
não me importa o que digam
eu vou colocar tudo a perder
porque meus sonhos não incluem você
eu não te perdi
apenas não...
não incluem você!
Estou com as passagens na mão
e posso dizer
será a melhor coisa para nossas vidas
estou cada vez mais distante
porque eu preciso de todos
mas não quero ninguém

Te extraño

As cartas de amor que nunca chegarão
Pra eu te dizer...
Pra te contar sobre o outono mais bonito
Das suas mãos sujas de terra
Do seu olhar aconchegante
E das palavras que me partiram
De como estou, como fiquei
As luas ainda estão cheias
O céu ainda é bonito
E as flores crescem
Mas eu não posso contar pra você
Te extraño

Acidente

Me perdi em um vale
Entre árvores distantes
Ardi
Queimei
 Me tornei fumaça
Não faço nada
Não sou ninguém

Noite

Sou nua
Flor despetalada
Verso ao inverso
Não sou triste
Mas não sou verão
Sou nua
Sua flor despetalada em copo de água
Morro sem ver o sol
Sofro sem ver
E só
Sou nua flor despetalada da madrugada
Livre
Fria
Seu manto
Seu pranto
Me rego em lágrimas
Nua
Escura
E fria

human

Nos autoflagelamos
violentamos nossos amores
esmagamos criancinhas
pintamos o sol de negro
choramos em silêncio

Somos todos mendigos
e não sabemos o que queremos

Criamos um jogo sádico
e chamamos de vida
rezamos para espectros
nossos lábios de carvão e brasa

Bebemos cicuta
nos alimentamos de pedras
usamos roupas de ouro
que reluzem
queimam a vista
nos cegam

Afundamos em mares profundos
em oceanos de mentiras e sorrisos
Somos todos mendigos
e não sabemos o que queremos

Somos armas e alvos
nos desarme
por favor

Tudo escorre em negro

Prata

Invisível
estouram os corações nos corpos
respiro profundamente
meu peito em prata reluzindo sob a chuva
Invisível
Chuva 

Ausência

A ausência
O sopro do silêncio
Garoa gelada
O vazio transborda
Eco mudo pálido
Rasga durante a noite
Me parte
Me fragmenta
Um corpo de lágrimas
Escorre por baixo dos lençóis

Estes dias

Nestes dias sem verão
Eu tenho sido uma mosca
Derretendo num doce
Entorpecida e brilhante
Vazia e solitária
Sem sentir o sabor da vida
Nestes dias sem verão
Tenho me sentido pálida e indiferente
Fraca e sonolenta
Nestes dias que nunca voltarão
Eu preciso mudar meu caminho
Assim
Assim vão em vão
Estes dias

Herói

Deixamos o herói partir

Levando nossas dores

Então eu digo

Espere

Não nos deixe

Espere

Espere a gente crescer 

Próximo as montanhas

Do outro lado do vale 

Espere a gente crescer

Mas a verdade 

É que ele vai

Mesmo eu pedindo

Ele vai

Cada vez mais distante

Ele vai

E não adianta gritar

Pare

Ele vai

Canção de outono

É chuva que lava
Que leva o verão
É o tempo passando
Passando em canção
É um beijo que fica
É um aperto de mão
Um abraço um sorriso
Outono chegando no meu coração

movem

Você me coloca contra a parede
uma parede de nuvens
atravessamos
e eu só vejo seus olhos
nos movimentamos
nos movimentamos
e  mudamos o mundo
o mundo ao nosso redor
eu peço um minuto de silêncio
o céu acima
todos sorriem para nós
talvez um dia a gente volte
eu me movo
e você diz adeus
sem se despedir

Die

Fatias grossas
Um coração dilacerado sobre a mesa
Veias vasos e muito
Muito sangue
Partes gordurosas
Pedaços nos lábios
Sangue no queixo
Olhos negros demoníacos nos devoram
Ah, é tão bom
Sua alma tão distante
Eu levo medo
E você gosta
Gosta do gosto
De sangue
Nos meus dedos
Você lambe
A morte
Quente nos lábios
Tão bom
Cães
Você rasteja
Não há chance
Carne
Debulhada
Respiro
O sol brilha sobre mim

Corra

Encontrei a razão
do pescoço das girafas
das cores do camaleão
do cheiro das flores
Então corra
corra
corra porque vou lhe contar...

melhores

Com minha armadura negra
eu voltei
escondendo feridas
mas o sangue vertia
vazava
cada passo
eu me entregava
todos sabiam
Mas eu seria melhor
tudo ficaria bem
pequenas mentiras
e
estamos melhores

Aqui

Você ecoa em mim
lágrimas sonoras
flores da manhã
sombras dos sapatos
Meu amor,
a vida é dura
Mas eu estou aqui pra você

Mar

Me sinto água
Um rio
Me sinto bem
Sou amor
Sou movimento
Desemboco no mar
Amar você

Sonhos

Havia um rio atrás do vale
pequenas crianças
o hálito fresco
menta e girassóis
derramamos flores em mim
escorregamos pelo túnel do passado
assistimos cada capítulo
e tudo tinha cheiro de flor
sorri para as crianças
tomei um pouco de mel
tirei o pólen que se escondia por baixo das unhas
me embriaguei com o sol
o sol
o mar
as flores
e as crianças
tudo infinito e azul
escorria em azulmel
folhas verdes balançando orquestradamente
vento suave de menta
centenas de dias
um pequeno cogumelo
o rei sapo e sua corte
um espirro de animal
flores se abrem e fecham
é manhã e noite
todo tempo em nossas pupilas escarlates
o mundo em prisma
a vida doce sorria
cavalos correm ao anoitecer
cercam as pequenas crianças que os afagam carinhosamente com suas mãos
dedo a dedo
crina a crina
eu explodi amor em diversas cores
e corri pra você
meu amor
guarde as cinzas das flores junto com o sal do mar
deixe os peixes brincando
tudo derrete
as paisagens se misturam
suas mãos contra o meu peito
sua boca
sua língua
sua vida dentro de mim
é tarde
Boa noite, meu amor!