quarta-feira, 28 de abril de 2021

Crônicas pandêmicas 4

 Resumo da semana

Estou cansada. Extremamente cansada. O cansaço me tomou. Só me restam os realities shows. Assisto a vida dos outros e projeto sonhos que parecem cada vez mais distantes. Simular ânimo, força e alegria. Hoje sou eu que interpreto. Crio um simulacro de ações emulando o que chamam de vida. Estou cansada. Extremamente cansada.

segunda-feira, 19 de abril de 2021

Crônicas pandêmicas 3

  Saudade poderia ser o mote sem fim para esses dias intermináveis. Talvez, em algum momento eu sinta falta desses dias ou não. A rotina, as reclamações, o medo...Eu sabia que seria assim, então planejamos. Vamos fazer uma viagem, vamos para um lugar novo. Fomos para São Francisco. Litoral catarinense, não a cidade estadunidense. Foram dias de calor e caminhadas...Sempre as longas caminhadas de dois viajantes que se perdem. Tomamos banho de mar, tomamos cerveja, tomamos caipirinha, tomamos fôlego para os próximos meses, anos...Era isso que precisávamos, fôlego, ar. Encher o pulmão e se preparar. Era março. E março veio de novo. Espero que nosso fôlego resista.

sábado, 10 de abril de 2021

Crônicas pandêmicas 2

Então, onde havíamos parado? Ah, me chamo Angélica, tenho 33 anos. OMG, acabou a porra do álcool em gel. Bom, vamos tentar fazer os dois, comprar o álcool e ver se tenho uma fucking ideia genial. Deixa eu pensar qual farmácia eu vou. Sim, vou na Panvel da rua XV, como sempre. Gosto de ir lá tem vários cosméticos caros pra eu passar no cartão de crédito e entrar em crise no fim do mês. Bora lá! 

A compra foi rápida e uma fominha bateu. Então pensei, vou comprar alguma coisa pra almoçar, mesmo que não sejam nem 11h da manhã, afinal eu sou adulta e almoço a hora que quiser! Meu corpo, minhas regras. Que tal uma refeição balanceada pra levantar a imunidade, uma indicação de 10 entre 10 nutricionistas? 

Perfeito. Entro no McDonalds da Rua XV. O que me traz uma nostalgia, os méquinhos da infância. Mas, a loja está diferente, vários totens de auto atendimento. Mais desempregados, penso. Me dirijo ao totem. A moça que cuida da fila pergunta se quero ajuda. Eu agradeço e penso, aff...Ajuda? Eu mexo em código fonte, html5, já trabalhei em departamento de tecnologia, eu sou a fodona da tecnologia. Meu bem, eu sou geração Y. Fico uns minutos sem entender direito como faço o pedido. Eu já havia usado esse totem em viagens fora do Brasil. Olha, eu...Burguesinha safada. Viagens fora do Brasil. Bom, consigo agilizar a compra. Peço o de sempre, quarteirão com queijo e me dirijo ao balcão. Indo para o balcão paro aleatoriamente entre um rapaz e um casal. Eles me olham, eu vejo que não estou nas faixas de demarcação. Prontamente mudo de lugar. Afinal, distanciamento social. Imaginem me confundir com um negacionista. Me envergonho por alguns segundos. De repente entra um rapaz. Ele não só fica fora do local demarcado, como arranca uma faixa de segurança e senta-se em uma mesa que estava bloqueada. Eu fico encarando o rapaz com um olhar de desaprovação. E pensando o que os outros estão pensando sobre mim e sobre ele. Algo do tipo, um pior que o outro. A moça do Mc solicita que o rapaz saia da mesa e vá para fila.  Ele se enrola e por fim dirige-se ao local indicado. Minha senha é chamada. Pego meu Mc e a moça dá o copo de refrigerante. Além de não ter um suporte, o refrigerante está sem tampa. Solicito uma tampa. Ela disse que vão pegar no estoque. Desisto da tampa e resolvo ir tomando o refrigerante. Primeiro e doce gole de uma coca-cola de máquina mal regulada. Pouco gás e muito xarope. E lá se foi uma manhã e nenhuma ideia genial. Seguimos...

Crônicas pandêmicas 1

 Entre se achar um ser excepcional e uma barata no bueiro do centro da cidade. Pensando bem, baratas são seres excepcionais tanto quanto os próprios bueiros. Talvez não seja a melhor comparação entre extremos, afinal os extremos no fundo são muito parecidos. Mentira, não são não. É impossível comparar a vida de um de um bilionário e de um carrinheiro. Calma aí! Não estou falando de felicidade, apenas sobre discrepâncias sociais. Ou talvez eu esteja falando sim da felicidade. Claro, o dinheiro ajuda muito. Uns 90%. Mas não era sobre isso. Era pra eu me apresentar ou algo do tipo. Me chamo Angélica, tenho 33 anos. Sinto que estou em um limbo, entre me chamarem de senhora e me confundirem com uma adolescente. E, talvez seja exatamente isso. Estou tentando voltar a escrever. Sim, como todo clichê cinematográfico de um artista que se encontra no limbo, ou melhor no bueiro. E como disse, talvez bueiros não sejam tão ruins assim. Então, vamos escrever! Vamos escrever. Por que diabos você tá falando na porra da 3ª pessoa? Talvez um vício acadêmico. Sim, porque na academia você adquire muitos vícios, beber, fumar, café, energético e muitas vezes tudo isso de uma vez. Porra, já bateu a preguiça...Sim, o monstrinho da autossabotagem chegando devagarinho em um aviso no whatsaap, não deve ser nada importante...Mas porque não ler e se entreter com outras bobagens e entrar em um looping de vídeos engraçadinhos do insta...Força, força! Ah, hoje não vou conseguir. Mas, quem sabe amanhã? Amanhã com certeza. Me esperem, amanhã eu me apresento direito.