segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Devolvidos

A caixa do mercado grita para o rapaz vir pegar as mercadorias. Ela comenta com ele, muita coisa devolvida. Eu olho para a parte dos devolvidos...Pães, carnes, frutas. Sim, alimentos básicos. Estamos sem o básico. Esse é o Brasil que muitos desejaram. Me bate uma tristeza e uma certa culpa. Não sou rica, mas ver o rapaz que estava cantarolando na fila ter que deixar seu abacate e ir embora de mãos vazias me dói. Sim, me dói muito. Penso em pagar o abacate para ele, mas ele sai. Eu fico. Fico inerte pensando nos meus privilégios. Pensando no que tenho feito pelo outro. Sim, eu tento fazer o que posso. Talvez deva fazer mais do que posso...

Uber

Início da noite, mas o dia já tinha sido daqueles. Daqueles dias bem mais loucos que muitas noitadas. Um dia de rockstar, rockstar das antigas, não esses que pedem Kombucha no camarim. Sim, como pode? Acho que o mundo começou a desandar nessa época. Enfim, início da noite, uma chuvinha fina e uma friaca típica das primaveras curitibanas. Primavera em Curitiba pra mim sempre foi como uma história do Tchekhov, um lampejo melancólico de um raio de sol e esperança. Chamo um uber. Ele vai para a quadra errada. Mando uma mensagem. Ele chega no local correto. Entro no carro. Percebo o motorista meio irritado. Eu sorrio. Ele olha para minhas pernas e retribui o sorriso. Ele comenta sobre a noite estar ótima para sair, eu concordo por concordar. Quero logo chegar em casa e dormir, ou tentar dormir. Ele pergunta sobre o verão, qual é a data? Eu faço uma piada por hábito. Minhas casas em sagitário estão sempre à postos. Ele ri e puxa mais um papo. Fala das decorações natalinas, que o pessoal não tem decorado as casas e tal. Penso que ainda é outubro, mas apenas respondo consentindo com a cabeça. Ele pergunta o porquê das pessoas estarem tão desanimadas. Eu penso, estamos em uma pandemia, oras. O povo tá sem grana, sem esperança, sem saúde, sem um governo...Mas, apenas respondo um:"poisé". A maior parte dos motoristas de uber são de direita, por isso tento evitar uma resposta polêmica. Sorrio e torço para chegar logo em casa. Mantenho minha aparência de jovem frágil. A noite segue.

domingo, 17 de outubro de 2021

I'll be there

 Me dê sua mão

Eu estarei lá

Pode contar comigo

A gente pode tudo, quando estamos juntos

Você sempre foi meu porto seguro

Agora é minha vez de ter força

Não se preocupe, você pode falar o que sente

Eu não vou te julgar

Conte comigo

I'll be there

Nem todos os dias são felizes

Nem todos os sonhos se realizam

Mas, todo dia é um novo dia pra gente recomeçar 

Então, conte comigo

Para o que der e vier!

terça-feira, 5 de outubro de 2021

EscritorA

Quero falar de tudo

Contar todas as histórias

A minha voz não é somente construída por feridas

Sou mulher e muitas outras coisas também 


segunda-feira, 4 de outubro de 2021

Astronauta

Uma vez o chão abriu-se
A vida entrou em suspensão 
O coração parou
O vazio preencheu todo espaço
Foi preciso aprender a flutuar e descobrir as alegrias do espaço infinito

domingo, 12 de setembro de 2021

Sem amar

 E falava de amor da maneira mais seca.

Com a rima dura.

Falava de amor e amar nitidamente sem nunca gozar.

Falava de amor sem ter no lábio saliva e no corpo salgado suor de horas e horas de uma noite sem os olhos pregar.

Falava de amor medindo palavras, sem permitir-se transbordar.

Falava de amor por imitação como um ciborgue.

Falava muito e sentia pouco.

Falava muito e escutava nada.

Falava e enumerava.

Falava armada, argumentada.

Falava sem amar.


quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Nuvem

 Há dias que são uma nuvem densa sobre nossas cabeças.

quinta-feira, 5 de agosto de 2021

Gal

 Quem se identifica com as canções da Gal certamente vive ou já viveu um grande amor, um amor arrebatador, um amor maduro, um amor adolescente, um grande amor! Já transbordou e se inundou nas ondas da paixão.

terça-feira, 27 de julho de 2021

Velhice secreta

E a gente não deixa o tempo desenhar na gente a história.

A gente paralisa seus traços.

A gente só quer envelhecer por dentro, sem que ninguém saiba.

Queremos uma velhice secreta.

Fugindo do pincel do tempo.

Fingindo ser foto de álbum antigo.

Envelhecemos secretamente.


domingo, 4 de julho de 2021

Millenials

 Filha de uma geração.

Seria impossível eu não falar sobre os millenials, sendo eu um retrato cuspido e escarrado ou esculpido em carrara, fica ao gosto do leitor, dessa geração.

Experiência essa é a minha palavra e mantra.

Ter carro ou casa própria nunca foram meus leitmotiv. Muito menos ter um filho.

Mas, isso não significa ter uma vida sem gastos. Pelo contrário, nada como viajar pelo mundo, comer em um restaurante exótico ou comprar um utensílio inútil hiper descolado e se endividar.

Talvez sejamos tão consumistas quanto outras gerações, mas as escolhas são outras.

Mas, pensamos pra que mais um carro no mundo? E fazemos um post sobre transporte público de qualidade.

Trocamos os filhos por gatos ou cachorros, e os gatos e cachorros por plantas.

Assumir compromissos a longo é algo aterrorizador, desde um  financiamento a um casamento.

Vivemos o momento e o momento é instável. Desapegados e carentes seguimos.

Irônicos, ácidos e sempre muito bem informados.



sexta-feira, 4 de junho de 2021

No reino tão tão distante

 No mosaico delirante de exibições nas redes sociais eu vejo um mundo paralelo. Sim, um mundo paralelo com um reino tão tão distante onde príncipes e princesas vivem suas vidas regadas a viagens e a fotos lacradoras enquanto do outro lado há um mundo onde milhares morrem e o caos  e a tristeza imperam. 

Me perguntei diversas vezes se eu sentia inveja desse reino dos lacres fotográficos e cheguei a conclusão que de certa maneira sim. Porque meu desejo é que todos possam desfrutar os prazeres desse reino tão tão distante.

Eu vejo os príncipes e as princesas desse reino tão tão distante com discursos afiados sobre budismo, amor e todo o combo gratiluz. Mas, durante a pandemia o amor ao próximo e a empatia parecem que são suplantados pelo chamado "amor próprio" e "autocuidado". Sim, existe um nome e conceitos diatorcidos para toda falta de empatia e exibição desenfreada de privilégios. Porque a saúde mental dos príncipes e princesas não pode ser abalada.

Sim, exibir todo seu privilégio em momento de pandemia é falta de respeito, é um delírio inescrupuloso e maldoso. Não, não estou falando de você que posta um copo de cerveja depois de uma semana de trabalho com a hashtag sextou. Estou falando das pessoas que vivem no mundo das maravilhas. Estou falando de gente que nem sabe que existe um outro mundo. Estou falando da desigualdade social que cada dia mata de forma tortuosa milhares e milhares.

sexta-feira, 28 de maio de 2021

No gympass

Viver é um exercício diário com mensalidades caras.


quarta-feira, 28 de abril de 2021

Crônicas pandêmicas 4

 Resumo da semana

Estou cansada. Extremamente cansada. O cansaço me tomou. Só me restam os realities shows. Assisto a vida dos outros e projeto sonhos que parecem cada vez mais distantes. Simular ânimo, força e alegria. Hoje sou eu que interpreto. Crio um simulacro de ações emulando o que chamam de vida. Estou cansada. Extremamente cansada.

segunda-feira, 19 de abril de 2021

Crônicas pandêmicas 3

  Saudade poderia ser o mote sem fim para esses dias intermináveis. Talvez, em algum momento eu sinta falta desses dias ou não. A rotina, as reclamações, o medo...Eu sabia que seria assim, então planejamos. Vamos fazer uma viagem, vamos para um lugar novo. Fomos para São Francisco. Litoral catarinense, não a cidade estadunidense. Foram dias de calor e caminhadas...Sempre as longas caminhadas de dois viajantes que se perdem. Tomamos banho de mar, tomamos cerveja, tomamos caipirinha, tomamos fôlego para os próximos meses, anos...Era isso que precisávamos, fôlego, ar. Encher o pulmão e se preparar. Era março. E março veio de novo. Espero que nosso fôlego resista.

sábado, 10 de abril de 2021

Crônicas pandêmicas 2

Então, onde havíamos parado? Ah, me chamo Angélica, tenho 33 anos. OMG, acabou a porra do álcool em gel. Bom, vamos tentar fazer os dois, comprar o álcool e ver se tenho uma fucking ideia genial. Deixa eu pensar qual farmácia eu vou. Sim, vou na Panvel da rua XV, como sempre. Gosto de ir lá tem vários cosméticos caros pra eu passar no cartão de crédito e entrar em crise no fim do mês. Bora lá! 

A compra foi rápida e uma fominha bateu. Então pensei, vou comprar alguma coisa pra almoçar, mesmo que não sejam nem 11h da manhã, afinal eu sou adulta e almoço a hora que quiser! Meu corpo, minhas regras. Que tal uma refeição balanceada pra levantar a imunidade, uma indicação de 10 entre 10 nutricionistas? 

Perfeito. Entro no McDonalds da Rua XV. O que me traz uma nostalgia, os méquinhos da infância. Mas, a loja está diferente, vários totens de auto atendimento. Mais desempregados, penso. Me dirijo ao totem. A moça que cuida da fila pergunta se quero ajuda. Eu agradeço e penso, aff...Ajuda? Eu mexo em código fonte, html5, já trabalhei em departamento de tecnologia, eu sou a fodona da tecnologia. Meu bem, eu sou geração Y. Fico uns minutos sem entender direito como faço o pedido. Eu já havia usado esse totem em viagens fora do Brasil. Olha, eu...Burguesinha safada. Viagens fora do Brasil. Bom, consigo agilizar a compra. Peço o de sempre, quarteirão com queijo e me dirijo ao balcão. Indo para o balcão paro aleatoriamente entre um rapaz e um casal. Eles me olham, eu vejo que não estou nas faixas de demarcação. Prontamente mudo de lugar. Afinal, distanciamento social. Imaginem me confundir com um negacionista. Me envergonho por alguns segundos. De repente entra um rapaz. Ele não só fica fora do local demarcado, como arranca uma faixa de segurança e senta-se em uma mesa que estava bloqueada. Eu fico encarando o rapaz com um olhar de desaprovação. E pensando o que os outros estão pensando sobre mim e sobre ele. Algo do tipo, um pior que o outro. A moça do Mc solicita que o rapaz saia da mesa e vá para fila.  Ele se enrola e por fim dirige-se ao local indicado. Minha senha é chamada. Pego meu Mc e a moça dá o copo de refrigerante. Além de não ter um suporte, o refrigerante está sem tampa. Solicito uma tampa. Ela disse que vão pegar no estoque. Desisto da tampa e resolvo ir tomando o refrigerante. Primeiro e doce gole de uma coca-cola de máquina mal regulada. Pouco gás e muito xarope. E lá se foi uma manhã e nenhuma ideia genial. Seguimos...

Crônicas pandêmicas 1

 Entre se achar um ser excepcional e uma barata no bueiro do centro da cidade. Pensando bem, baratas são seres excepcionais tanto quanto os próprios bueiros. Talvez não seja a melhor comparação entre extremos, afinal os extremos no fundo são muito parecidos. Mentira, não são não. É impossível comparar a vida de um de um bilionário e de um carrinheiro. Calma aí! Não estou falando de felicidade, apenas sobre discrepâncias sociais. Ou talvez eu esteja falando sim da felicidade. Claro, o dinheiro ajuda muito. Uns 90%. Mas não era sobre isso. Era pra eu me apresentar ou algo do tipo. Me chamo Angélica, tenho 33 anos. Sinto que estou em um limbo, entre me chamarem de senhora e me confundirem com uma adolescente. E, talvez seja exatamente isso. Estou tentando voltar a escrever. Sim, como todo clichê cinematográfico de um artista que se encontra no limbo, ou melhor no bueiro. E como disse, talvez bueiros não sejam tão ruins assim. Então, vamos escrever! Vamos escrever. Por que diabos você tá falando na porra da 3ª pessoa? Talvez um vício acadêmico. Sim, porque na academia você adquire muitos vícios, beber, fumar, café, energético e muitas vezes tudo isso de uma vez. Porra, já bateu a preguiça...Sim, o monstrinho da autossabotagem chegando devagarinho em um aviso no whatsaap, não deve ser nada importante...Mas porque não ler e se entreter com outras bobagens e entrar em um looping de vídeos engraçadinhos do insta...Força, força! Ah, hoje não vou conseguir. Mas, quem sabe amanhã? Amanhã com certeza. Me esperem, amanhã eu me apresento direito.