segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Uber

Início da noite, mas o dia já tinha sido daqueles. Daqueles dias bem mais loucos que muitas noitadas. Um dia de rockstar, rockstar das antigas, não esses que pedem Kombucha no camarim. Sim, como pode? Acho que o mundo começou a desandar nessa época. Enfim, início da noite, uma chuvinha fina e uma friaca típica das primaveras curitibanas. Primavera em Curitiba pra mim sempre foi como uma história do Tchekhov, um lampejo melancólico de um raio de sol e esperança. Chamo um uber. Ele vai para a quadra errada. Mando uma mensagem. Ele chega no local correto. Entro no carro. Percebo o motorista meio irritado. Eu sorrio. Ele olha para minhas pernas e retribui o sorriso. Ele comenta sobre a noite estar ótima para sair, eu concordo por concordar. Quero logo chegar em casa e dormir, ou tentar dormir. Ele pergunta sobre o verão, qual é a data? Eu faço uma piada por hábito. Minhas casas em sagitário estão sempre à postos. Ele ri e puxa mais um papo. Fala das decorações natalinas, que o pessoal não tem decorado as casas e tal. Penso que ainda é outubro, mas apenas respondo consentindo com a cabeça. Ele pergunta o porquê das pessoas estarem tão desanimadas. Eu penso, estamos em uma pandemia, oras. O povo tá sem grana, sem esperança, sem saúde, sem um governo...Mas, apenas respondo um:"poisé". A maior parte dos motoristas de uber são de direita, por isso tento evitar uma resposta polêmica. Sorrio e torço para chegar logo em casa. Mantenho minha aparência de jovem frágil. A noite segue.

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