Não há gravidade ou
Mercúrio Zero
Ambiente:Uma cidade. Um bairro. Moradores de um bairro.
É madrugada, o tempo está úmido e quente.
Não há vento nem barulho, exceto o ranger de uma
cadeira de balanço dentro de uma casa, nesta casa
estão sentados, em uma pequena escada, um homem por volta dos 78 anos e seu neto de 13 anos. O silêncio permanece por mais alguns minutos.
Homem: Chegará um dia em que não precisaremos mais dormir! Chegará um dia em que nosso corpo terá um chip... Sim, um chip que controlará todas as nossas funções.
Neto: Chegará um dia em que todos, dormiremos para sempre. Chegará um dia em que o senhor irá morrer e isso não está muito longe. Chegará um dia em que eu acordarei e ouvirei um grito da vovó, correrei para o quarto de vocês e ela tentará acordá-lo, mas não conseguirá!
Homem: Chegará um dia em que ao ligar a TV, eles dirão no jornal que foi inventado um chip... Sim, um chip que regularizará todas as nossas funções e nunca, nunca morreremos.
Neto: Chegará um dia em que existirá tanta gente no planeta, mais tanta gente que ninguém mais poderá se mover e ficaremos parados para sempre, sem nunca se mover e sem nunca morrer. Chegará um dia em que ficaremos tão espremidos que teremos que permanecer com as cabeças viradas para cima para poder respirar.
Homem: Chegará um dia em que de tanto olharmos para o céu e percebermos o vento, aprenderemos a voar e nossos calcanhares se descolarão subtamente do chão. Chegará um dia em que um chip... Sim, um chip captará a aerodinâmica dos pássaros e voaremos.
Neto: Chegará um dia em que um homem começará a descolar seus calcanhares do chão, como se fosse decolar, mas alguém perceberá o seu movimento e se agarrará nessa pessoa, atracando suas unhas na pessoa e outra pessoa verá isto e se atracará também, e de repente todas as pessoas se atracarão na pessoa que decolava, puxando-a para baixo e a puxarão tanto, que arrancarão seus membros. (pausa) Chegará um dia em que a história do homem que tentou voar se tornará uma lenda, depois uma piada.
(a cadeira de balanço pára de ranger)
Avó: Chegará um dia em que poderei dormir, saco!!! Chegará um dia em que---
(voz off masculina, Vizinho)
Vizinho: ---em que as folhas de outono serão varridas e a neve cobrirá as ruas.
(voz off feminina, Mãe)
Mãe: ---chegará um dia em que você virá para casa dormir.
Neto: Chegará um dia em que eu terei vontade de ir para casa!
(Mãe entra)
Mãe: Chegará um dia em que você terá vontade de vir para casa e será tarde demais.
Neto: Chegará um dia em que... Chegará um dia em queee!! Chegará um dia, em que! Chegará um dia, em queeeeeeee!!!!
Neva
Neva
Neva Neva
Neva Neva
Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva
Mãe: Chegará um dia, em que.
Avó: Chegará um dia, em que. Chegará um dia, em que. Homem: Chegará...um dia, em que.
Mãe: Chegará um dia em que! Chegará um dia...em que. Vizinho: Chegará um dia, em que sim.
Mãe: Che-ga-rá um dia em quE. (Homem morre)
Neto: Che-ga-rá um dia em quE. Chegará um dia em que! Chegará um diaaaaa, em que. Chegará...um dia....em...que. Chegarará um dia em que! Chegará...um dia, em que.
Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva Neva
Angélica Rodrigues
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