quarta-feira, 2 de novembro de 2022

A vida é coisa frágil

 A vida é coisa frágil 

Como teia de aranha

Surge do nada

E com um sopro se vai

A vida é coisa frágil

Como teia de aranha

Beleza cheia de incertezas

De caminhos insólitos 

A vida é coisa frágil 

Como teia de aranha

Captura instantes até se findar

A vida é coisa frágil 

Como teia de aranha 

É trama

Conecta fios, faz redes, cria laços de amar

A vida é coisa frágil 

Como teia de aranha

Surge nas frestas, no silêncio e te espanta ao encontrar

A vida é coisa frágil 

Frestas

Álcool, desespero e música

Um corpo pulsante

Um coração embalado no ritmo do samba

Um ou dois acordes 

O latido distante do cão

Um tiro

Um rompante 

Um rasgo

Uma saída

É preciso ter esperança 

É preciso fazer samba

É preciso romper, rasgar, encontrar brechas

Frestas 

Afetar

É preciso ser gentil 

É preciso ser, cada dia mais ser 

Ser 


sexta-feira, 27 de maio de 2022

Lembranças

 É como usar luvas toda vez que tocamos em alguma coisa e depois, esquecendo que escolhemos colocá-las, reclamamos que nada parece real. Nosso desafio a cada dia não é nos vestirmos para enfrentar o mundo, mas nos despirmos para que a maçaneta fique fria e a maçaneta do carro fique molhada e o beijo de despedida pareça os lábios de outro ser, macios e irrepetíveis.

domingo, 23 de janeiro de 2022

El mundo mejora cuando nos besamos

 "El mundo mejora cuando nos besamos."

Só pra te lembrar que quando nossos lábios, dentes, saliva e língua se encontram e a respiração é suspensa, nossos pulmões criam canções mudas com soluções para mudar o mundo.


sábado, 8 de janeiro de 2022

Superficial

 A superfície da superfície

Como algumas pessoas conseguem se esconder na superfície?

Talvez como camaleões elas se disfarçam, se camuflam ficando igual a tudo

Ficando igual a todos

Seus corpos são apenas espelhos das imagens que os cercam

Sim, pessoas espelhos 

Você até pode achar que existe algo ou alguém ali

Mas, é apenas um reflexo mudo

Uma imagem sem voz

Quando tocamos há somente a superfície

E as superfícies não cedem ao carinho do toque

No máximo quebram

Se partem

E ao partirem cortam...

É preciso cuidado

Muito cuidado ao se aproximar das superfícies elas podem perfurar fundo.

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Devolvidos

A caixa do mercado grita para o rapaz vir pegar as mercadorias. Ela comenta com ele, muita coisa devolvida. Eu olho para a parte dos devolvidos...Pães, carnes, frutas. Sim, alimentos básicos. Estamos sem o básico. Esse é o Brasil que muitos desejaram. Me bate uma tristeza e uma certa culpa. Não sou rica, mas ver o rapaz que estava cantarolando na fila ter que deixar seu abacate e ir embora de mãos vazias me dói. Sim, me dói muito. Penso em pagar o abacate para ele, mas ele sai. Eu fico. Fico inerte pensando nos meus privilégios. Pensando no que tenho feito pelo outro. Sim, eu tento fazer o que posso. Talvez deva fazer mais do que posso...

Uber

Início da noite, mas o dia já tinha sido daqueles. Daqueles dias bem mais loucos que muitas noitadas. Um dia de rockstar, rockstar das antigas, não esses que pedem Kombucha no camarim. Sim, como pode? Acho que o mundo começou a desandar nessa época. Enfim, início da noite, uma chuvinha fina e uma friaca típica das primaveras curitibanas. Primavera em Curitiba pra mim sempre foi como uma história do Tchekhov, um lampejo melancólico de um raio de sol e esperança. Chamo um uber. Ele vai para a quadra errada. Mando uma mensagem. Ele chega no local correto. Entro no carro. Percebo o motorista meio irritado. Eu sorrio. Ele olha para minhas pernas e retribui o sorriso. Ele comenta sobre a noite estar ótima para sair, eu concordo por concordar. Quero logo chegar em casa e dormir, ou tentar dormir. Ele pergunta sobre o verão, qual é a data? Eu faço uma piada por hábito. Minhas casas em sagitário estão sempre à postos. Ele ri e puxa mais um papo. Fala das decorações natalinas, que o pessoal não tem decorado as casas e tal. Penso que ainda é outubro, mas apenas respondo consentindo com a cabeça. Ele pergunta o porquê das pessoas estarem tão desanimadas. Eu penso, estamos em uma pandemia, oras. O povo tá sem grana, sem esperança, sem saúde, sem um governo...Mas, apenas respondo um:"poisé". A maior parte dos motoristas de uber são de direita, por isso tento evitar uma resposta polêmica. Sorrio e torço para chegar logo em casa. Mantenho minha aparência de jovem frágil. A noite segue.